Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Livro Secreto #3 O Plano Infinito de Isabel Allende

Tenho andado no limbo, quanto aos prazos de leitura do Livro Secreto, a ver se me despacho no próximo. Uma vez mais, terminei de ler à bruta na data limite, para proceder à entrega dentro do prazo, que isso, não tenciono falhar.

 

O livro que me calhou desta vez foi O Plano Infinito da Isabel Allende.

 

 

É a primeira vez que leio Isabel Allende, e apesar de ser um livro que por livre e espontânea vontade não compraria, nem leria, a verdade é que tenciono voltar a ler esta autora, fiquei agradavelmente surpreendia, é o tipo de livros que eu gosto e aprecio, tem uma escrita crua, tal como eu gosto, sem rodeios nem floreados.

 

Confesso que inicialmente estava com algumas dificuldades com este livro, é bastante denso, e inicia-se de forma bastante confusa. Com dois narradores e imensas personagens, demorei a compreender quem era quem e de que modo contribuíam para a trama, e demorei ainda a compreender quem narrava o quê, o tempo e o espaço das personagens. É um livro que passa muito rapidamente, e quase sem nos darmos conta de um narrador na terceira pessoa, para a narração do personagem principal, voltando atrás com alguma frequência. Depois de nos emaranharmos na história, a compreensão torna-se simples e facilmente damos pela diferença dos dois narradores, e o que é que a autora pretende com esta diferenciação.

 

O Plano Infinito retrata a história de Gregory Reeves, filho de Charles Reeves, australiano e imigrante nos Estados Unidos. Desenrolando-se na primeira metade do século XX, numa altura em que a imigração atingia o seu auge, os Reeves viviam como nómadas, enquanto Charles, apelidado de Doutor das Ciências Divinas, pregava cidade a cidade o Plano Infinito, que defendia que tudo acontecia por um propósito, que o acaso não existia. Após a morte de seu pai a vida dos Reeves muda radicalmente, e este livro retrata todas as privações, todo o sofrimento a que Gregory esteve sujeito, desde o abandono da mãe, aos fracassos amorosos, passando pelos problemas que tinha com gangues nos tempos de escola e pelas tentativas de ser alguém na vida.

 

O Plano Infinito demonstra a influência, positiva e negativa, de certas pessoas nas nossas vidas, e do modo como elas conseguem modificar todo um percurso. Este livro, acompanha assim todo o desenvolvimento social e pessoal do personagem, enquanto tenta lutar contra os seus fantasmas. 

 

Os cenários, são do inicio ao fim, macabros, as descrições são cruas, violentas e bastante visuais, desde a guerra, a situações de violação, são vários os cenários bárbaros a que Gregory foi sujeito, que não deixam o leitor indiferente. 

 

 

Críticas - tenho apenas duas:

  • O livro tem o poder de cativar, mas por vezes a autora dispersa, para enquadrar historicamente, o que origina algumas repetições para voltar a centrar o leitor na trama, e isso poderá originar oscilação no interesse.

  • Forma visual demasiado densa, sem parágrafos, com poucos diálogos, quase sem capítulos, o que torna a leitura um pouco mais difícil.

 

Reflexões:

  • O meio de onde vimos não tem de predizer todo o futuro, no entanto, quem vem de meios mais desfavorecidos necessita de um esforço muito maior para alcançar os mesmos objectivos, comparativamente com alguém que vem de um meio mais protegido e financeiramente mais sustentável.

  • A importância do comportamento dos pais aquando da maternidade/paternidade, e a forma como esse comportamento pode influenciar positiva ou negativamente o futuro dos filhos. Pais desinteressados, pode originar comportamentos desviantes dos filhos, que inicialmente podem ser chamadas de atenção, mas que com o tempo podem ser problemas estruturantes e complicados de alterar.

  • A importância das crenças no desenrolar das vivências dos indivíduos, sejam religiosas, místicas ou morais.

  • A importância que o dinheiro tem nas pessoas, como forma de demarcação social. 

 

Como balanço geral, adorei o livro e tenciono, efectivamente voltar a ler Allende.

2 comentários

  • Imagem de perfil

    Mula 21.03.2016

    Às vezes os livros não dependem só do tipo de escrita, às vezes é problema da história em si. Se a história não cativar, acabamos por não gostar. Pode ter sido o caso. Para já foi o único que li da Allende e confesso, se fosse meu, no inicio tinha desistido de o ler, porque tem um inicio muito complicado que se não tivesse timing provavelmente teria pousado o livro para outra ocasião e teria perdido uma grande história, com mensagens espectaculares. Aconselho vivamente.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

    Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.