Há pouco, veio cá à loja, um senhor, um sem-abrigo.
Não, o senhor não veio pedir dinheiro... Ou comida... Ou algo de valor. O senhor veio cá porque precisava de uma caixa para dormir... Infelizmente não tinha nada comigo, nem uma peça de fruta, nem um iogurte... Nem a caixa que o senhor precisava...
Fiquei com o coração tão apertadinho...
Claro que eu sei que os sem-abrigo existem, que precisam de tantas e tantas coisas... mas infelizmente, sou um comum mortal: só quando me batem à porta é que o meu coração se amarfanha de tal maneira que até dói...
O meu colega diz que a culpa é dos trabalhadores sociais... no fundo, então, a culpa é também um pouco minha, e acaba por ser um pouco de todos. Porque me dói na alma, mas não faço nada para mudar coisa nenhuma...
Enfim... fiquei deprimida e de coração partido!
[O senhor entretanto, arranjou uma boa caixa, grande, na loja em frente.]
Eu por princípio não dou dinheiro, prefiro dar comida, mas a verdade é que sei de demasiadas coisas sobre instituições de apoio alimentar e fico muito descrente... Ajudo o banco alimentar sempre que posso, mas ouço tanta coisa, tanta coisa... que poderia ajudar muito mais, e não o faço, porque temo que os produtos que estou a oferecer não sejam entregues a quem verdadeiramente necessita...
Roupa, dou sempre que posso. Até peças novas com a etiqueta, que por alguma razão não irei usar, ponho naqueles contentores com roupa para ajudar... Contribuo para a Cais também sempre que posso... Na realidade eu até faço o que posso, mas ainda assim, sei que está longe de ser suficiente...
Eu também é raro dar dinheiro. Prefiro sempre os bens. A roupa e sapatos que já não uso e outros materiais como folhas, cadernos, canetas, brinquedos... dou tudo a instituições.
Pode não ser o suficiente mas se cada um ajudar conforme as suas possibilidades o mundo estaria bem melhor. Eu já colaborei com aquela instituição por isso confio porque muitas vezes também tenho medo de dar e não saber para onde vai.
Sim, quando se conhece até se dá com mais vontade, porque se sabe que vai ser bem entregue. A roupa de homem, tenho sempre a quem dar, porque a minha sogra trabalha numa instituição de rapazes, e pronto, tem sempre destino. A de mulher - minha - vai para os contentores, e espero que chegue sempre a quem precisar... Brinquedos ainda não os tenho para dar... Mas até já móveis dei a pessoas que sabia que precisavam...
Mas olha que também já tentei dar moveis, à REMAR, mas que apenas porque não estavam impecáveis, e precisavam de os restaurar, recusaram... E eu não acho isso bem, porque se trabalham lá homens que necessitam de apoio, restaurariam os móveis num instante para serem colocados à venda ou dar a essas pessoas que precisam...
Sim odeio quando as instituições ainda se armam em esquisitas.
Quando me inscrevi para voluntária na Santa casa da Misericordiosa não me aceitaram porque eu não tinha disponibilidade todos os dias =/
Uma pessoa está a dar dentro das possibilidades e a mais não é obrigada. Mas enfim :( Já ajudaste umas quantas pessoas por isso já fazes a tua parte, infelizmente não podemos ajudar todos.
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