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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Atrás da Mula...

Está uma mulher independente e relativamente segura, mas que nem sempre o foi.

 

Actualmente consigo fazer uma vida solitária sem sofrimento. Consigo ir ao cinema sozinha, entro em qualquer café ou restaurante e faço uma refeição sozinha, passeio pelo shopping e vou às compras sozinha. Relaciono-me sem dificuldade com um grupo de desconhecidos, brinco e abuso com amigos que não são os meus, e digo piadas sem receio que não se riam.

 

Mas nem sempre fui assim.

 

Até aos meus 16 ou 17 anos, entrar em qualquer sítio e pedir informações, ou dirigir-me simplesmente a alguém para pagar, ou fazer qualquer outra coisa, era um inferno. Era extremamente envergonhada, quase patologicamente envergonhada. Até para levantar um  braço na aula e pedir algum tipo de esclarecimento era complicado.

 

Depois, fui estudar para "longe", relacionar-me pela primeira vez em muitos anos com pessoas que não conhecia de lado algum, e tudo mudou. Inicialmente olhavam para mim como se eu fosse um ET, porque com 17 anos, eu nunca tinha entrado numa discoteca, já usava aliança de comprometida, a até já tinha trabalhado. Falava de uma maneira demasiado adulta - diziam-me -, e não me vestia como a maioria das raparigas da minhas idade. A verdade é que eu vinha de uma aldeia, uma aldeia localizada a 6 km do centro do Porto, mas não deixava de ser uma aldeia. Aos poucos, foram-me achando piada, e fui integrada na turma sem grandes reservas. Passei de aldeã a psicóloga em três tempos: viam-me como uma figura séria, com uma opinião válida. Isso, no fundo foi um impulso, para o aumento da minha confiança e auto-estima e foi quando comecei a perceber que afinal eu até sabia umas coisas, e que até podia ter importância para os outros.

 

Comecei a falar com mais confiança, e isso fazia com que ganhasse ainda mais confiança em mim própria. Aos poucos fui deixando de agradar aos outros para ser aceite, e passei a querer agradar-me a mim mesma, marimbando-me para o que os outros pensavam e fui ganhando pessoas na minha vida que gostavam de mim como eu era, e não como os outros achavam que eu deveria ser. Percebi que era este o caminho.

 

Longe vão os tempos em que me chamavam de "burra" e eu baixava, literalmente, as orelhas sem repostar, aceitando. Longe vão os tempos em que faziam de mim gato sapato sem que eu protestasse ou denunciasse. Longe vão os tempos em que me deixava maltratar, me violava a mim própria permitindo que os outros me desrespeitassem.

 

Ainda sou reservada e envergonhada. Ainda tenho as minhas fragilidades. Quem não as tem? Só não as deixo dominar a minha vida!

4 comentários

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    Mula 18.01.2016

    Da Mula já ninguém faz farinha! Image
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    Sofia 18.01.2016

    Da Sofia também não!Image
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    Mula 18.01.2016

    É assim mesmo, primeiro nós!Image
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    Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.