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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Solidariedade, Marketing e Bom Senso

 

 

Estamos oficialmente na época dos peditórios. Esta época inicia-se no dia 1 de Novembro com o Dia de Todos os Santos e prolonga-se até finais de Dezembro para aproveitar o espírito natalício.

 

Dizem que nesta altura as pessoas são mais solidárias. Dizem que no Natal as pessoas colocam a mão à consciência e contribuir é uma forma de lavar a alma. Acredita-se, e se assim é, é porque deve ser verdade, que nos meses em que as pessoas gastam mais dinheiro e ficam depenadas - e algumas endividadas - até Março, que é mais fácil que as pessoas contribuam, quiçá na esperança de encontrarem um lugarzinho felpudo no céu.

 

Eu sinceramente não acredito.

 

Sinceramente acho que nos moldes que os peditórios são realizados, é possível obter uma boa adesão independentemente da época em que é realizado - com à exceção de Janeiro e Fevereiro, que já se sabe, nesses meses o dinheiro já quase nem estica para pagar a água, porque a juntar ao dinheiro que se pediu emprestado para as prendas de Natal, está a conta da luz que inclui quase 2000 horas de ar condicionado ou aquecimento central para tirar a humidade dos ossos. 

 

Ora vejamos:

 

As pessoas que efetuam os peditórios encontram-se a fazer barreira humana nas entradas dos supermercados ou nos centros comerciais, não dando grande espaço à pessoa de decidir se quer ou não contribuir, nem se querem ou não falar com estranhos, muitas das vezes esticam o saco - quando é pedido de alimentos - de uma forma que o nosso cérebro pega sem pensar porque é automático, e como se isto ainda fosse pouco ainda colocam crianças pequenas a fazê-lo. Como dizer não a uma criancinha? É o mesmo que nas ruas das cidades os pedintes terem um cãozinho com um cesto na boca enquanto o palermita do dono toca umas notas num acordeão. Porque não segura ele o cesto com os dentes? 

 

Adiante. 

 

Calma, antes de começarem já a cuspir fogo, a atirar pedras ou a arrancarem os cabelos leiam só mais um pouco.

 

O que está em causa não é a pertinência da causa, a necessidade que as instituições têm, e a importância das mesmas nos meios onde se inserem. Essa questão daria todo um outro e diferente texto. A questão é a forma como as pessoas são abordadas, como as coisas são realmente feitas. Não é possível assim, determinar a solidariedade das pessoas porque desta forma não é possível avaliar se a pessoa contribuiu porque quis ou porque se sentiu obrigada, por padecer daquele grande mal que na ótica da Mula é muito comum nos portugueses, o não saber dizer não. E quem estabelece estas campanhas sabe perfeitamente disso. Sabe quanto mais agressivo for o peditório mais as pessoas contribuem.

 

Certo, as instituições precisam tanto, tanto tanto que só assim é que conseguem obter resultados satisfatórios. Certo. Entendo. Entendo mas não concordo porque para mim é uma forma de coação. Eles estão no direito de pedirem,  eu estou no direito de dizer que não, e ainda há quem esteja no direito de não querer ser abordado. E além do mais as pessoas têm direito a esse espaço de decisão, sem pressões nem atentados ao espaço físico alheio. Vivemos numa democracia certo? Então quer quer contribuir contribui, e não precisa que lhe impinjam um saquinho ou um autocolante para a lapela, quem não quer não contribui. Estas campanhas devem continuar a existir, mas sem que as pessoas que ali estão interfiram no espaço social dos outros. Considero por isso, e que cada vez mais, há falta de bom senso. Não tarda, não colocam só criancinhas de 8 ou 10 anos a pedir, colocarão antes criancinhas com 8 ou 10 anos a pedir, com um cão/gato bebé numa mão, e o saco ou "mealheiro" na outra, enquanto fazem barreira humana nos supermercados e entradas dos shoppings.

 

Pode-se fazer? Pode-se. É ético? A Mula acha que não! Se a Mula acha que se deve pedir? Acha pois. Se a Mula acha que as pessoas devem sentir-se obrigadas a dar... Não, obviamente que não!

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